Em Curitiba, Cristina Graeml quer cobrar passagem de ônibus mais barata dos ricos
- Brasil de Fato
- 18 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Proposta retrocede a década de 1980 no que tange a inclusão de pessoas mais pobres
Sabe quando a emenda saiu pior do que o soneto? É o que está acontecendo com a proposta da candidata Cristina Graeml (PMB) com relação à tarifa de transporte público de Curitiba. Ao tentar consertar o seu plano de governo dizendo que a intenção não é aumentar o valor da passagem para quem mora afastado do centro, ela admitiu que o desejo é baratear o valor para as regiões centrais mais ricas. Neste caso, o “sistema” acaba pagando a conta. Além disso, a proposta pode retroceder no tempo, acabando com a Tarifa Social Única, que favoreceu a criação dos "Centros Lineares", segundo especialistas.
A proposta de Cristina agrada aos ouvidos e ao bolso das zonas centrais e mais ricas de Curitiba, onde ela teve desempenho melhor no primeiro turno. Por outro lado, dada a realidade dos deslocamentos de trabalhadores da cidade, pune os mais pobres que terão que pagar “tarifa completa”. Nestas regiões mais pobres a candidata do PMB teve pior votação. Graeml se explicou nas redes sociais:
“É mentira que quem mora nos bairros vai pagar mais porque, em primeiro, a tarifa vai custar menos do que os absurdos R$ 6. Segundo, quem vai andar em trajetos menores, vai pagar menos, independente do local. Terceiro, quem percorre trechos longos vai pagar a tarifa normal”, segrega a candidata. Em seu plano de governo, ela reforça: “além disso, buscaremos a adoção do modelo de integração temporal, permitindo que os usuários façam múltiplas viagens com uma única tarifa dentro de um período determinado”.
A proposta, no entanto, não observa que os mais pobres, especialmente as pessoas negras, são as que têm que se deslocar por distâncias maiores para ir trabalhar ou em busca do emprego. Em abril deste ano, na Câmara Municipal de Curitiba, durante o “Seminário Mobilidade Urbana em Curitiba”, Tainá Bittencourt, que é Doutora em engenharia de transporte pela Universidade de São Paulo e engenheira civil pela Universidade Federal do Paraná, explicou que as pessoas têm sido afastadas do transporte por causa do tempo de espera e viagem, o custo das passagens ser caro, e a lotação.
“Quando a gente olha para classe social e raça, em Curitiba, se percebe que a classe alta e branca, tem uma facilidade de acessar oportunidade de emprego três vezes maior do que a população de classe baixa de menor renda e negra. Isso não é uma coincidência que as pessoas da periferia demoram três vezes mais para acessar o mesmo mesmo número de oportunidades ou que as pessoas de classe baixa/negra tem uma dificuldade três vezes maior para acessar o mesmo número de oportunidades que classes altas brancas”, disse a especialista.
Mais pobres percorrem maiores trechos para se deslocarem ao trabalho: Reprodução audiência pública CMC
Passos para trás
Para o arquiteto e urbanista Ricardo Tempel Mesquita, a proposta pode acabar com uma das maiores inovações propostas pelo sistema de transporte coletivo "EXPRESSO", no "Sistema Trinário", concebido pela “fabulosa equipe Jaime Lerner”.
“Foi a Tarifa Social Única, que favoreceu a criação dos "Centros Lineares", motivando as pessoas a saírem do tradicional centro concêntrico. Desta forma a pessoa podia morar no Santa Cândida e trabalhar no Capão Raso, bairros antigamente afastados e sem densidade populacional, pois as pessoas demoravam horas para se deslocar entre eles e deles até o centro onde se concentravam todos os serviços e comércios”, avalia.
Já o engenheiro civil e especialista em mobilidade, Roberto Ghidini, que mora em Madri e trabalha com sistema de mobilidade urbana, comenta que a proposta desvirtua características do que é implementado na capital espanhola e em Londres (Inglaterra). Ao começar a tarifa diferenciada em Madri. A começar que em Madri o centro é expandido para toda cidade, tendo a tarifa diferenciada para região metropolitana. Em seguida, ele reforça que em ambas cidades a empresa de transporte é estatal. Por fim, comenta que as cidades implementam bilhete único mensal e temporal.
“As Zonas tarifárias da Comunidades de Madrid - entenda-se como "estado" - são 179 municípios. Em Londres, os trabalhadores recebem um abono anual e é integralmente descontado mês a mês em 12x pela empresa no pagamento. O que tem que considerar é que a EMT (Madrid) e a TFL ( Londres) são empresas públicas e não visam lucro”, sustenta Ghidini.
Para ele, pensar um transporte inovador e do futuro não passa por criar “privilégios” para pessoas mais abastadas. A lógica é criar um sistema público de transporte estatal. “É chegado o momento de colocar em marcha um debate amplo sobre a futura concessão de 2025 e se não seria o caso de tornar o transporte coletivo efetivamente público. Com isso, estaria promovendo o transporte público de forma a competir com o transporte privado individual, que bem sabemos das repercussões negativas ao meio ambiente, na saúde das pessoas e na acidentalidade/fatalidade oriundas das ocorrências”, comenta Ghidini.
Edição: Ana Carolina Caldas
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